Atenção

Todos os textos do blog são de minha autoria (Eduardo Gonçalves Monteiro) assim como as imagens postadas a partir do dia 1 de maior de 2010. Caso pretenda utilizar algum texto do blog de os devidos créditos ao autor e ao blog.

domingo, 3 de março de 2013

Rota Alterada



Ela se esqueceu de ser real. Naquela noite tudo o que trazia em mente eram pequenas migalhas de uma luz que um dia brilhara forte. Sonhou demais. Subiu demais e não viu a altura da montanha até chegar a borda. O limite.
Não calculou bem, ignorou o GPS e até mesmo a velha bussola que ganhara do avô quando pequena. Ficou cega. Puta euforia.
Não que fosse burra, sabia das consequências de correr com muita sede ao pote, mas foi assim. Inconsequente. Vendada. Cega.
Mas é na beira do precipício que o estomago alarma. Que cada pelo do seu corpo se ouriça. É na beira do precipício que a venda cai.
Antes ela do que você.
Mas o que lhe resta, jogar-se? Insana. Ou recuar, correr de volta a selva crua do mundo, sem bussola, sem GPS. Lutar por ser outra vez. Quem sabe?

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Flor de Chamariz



A loucura não é bambu
Que em dois dias, do broto se estica
A loucura é feito semente plantada
Que se esgueira nas brechas dadas
Fortifica-se em caule, sem ninguém perceber nada
São apenas galhos e folhas. Camufladas.

Até que chega a hora em que o botão desabrocha. Explode em flor.
Flor de cor, de perfume. Flor de chamariz.

Bem a tempo de, no solo, fincar raiz. 

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Boemia




Não que o mundo seja tato
Ou que não o tenha em fato
Só o que passa é o que desgasta
O que já ficou enferrujado

Quem sabe a gente não perdeu
Não cansou
Cansou?

Cansou de dedicar canções de amor ao vento
E celebrar a boemia desregrada sob o edredom no quarto
Faz quarenta lá fora...

Vale suprir o vazio com falsas expectativas?  Tudo é valido!
Tudo é fato.
Nem tudo é tato.

quinta-feira, 8 de março de 2012

ça va





Tá bom. Tá bom assim como está. Canção tocando no fone, ao pé do ouvido, batida ritmada. Tá bom. Ouvir a trilha sonora das expectativas que não tive. Tá bom. Pra que mudar a faixa quando o compasso já marcou. Grudou na cabeça e ficou bom. Tão bom. Nem vejo o tempo passar só vejo o dia acabar quando a luz se esconde atrás de casa. Então vai ficar e quem vai ligar? É bom. Deixar o tempo passar e ouvir no pé do ouvido a batida.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Passos de criança



Vamos parar, por um minuto apenas. Um minuto para respirar.

E se a gente voltasse? Voltasse para quando tínhamos pernas menores, pernas de criança. Nossos passos não seriam mais tão largos. Seriam calmos.

Nossos risos seriam mais ingênuos, mais delicados. E não teriam mentiras só brincadeiras.

E por falta de maldade, não haveria ciúmes. Só o tempo, tempo que não nos importaria. Para que nos preocuparmos com algo que não nos pertence?

Então vamos andar com calma, com nossos passos de criança.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O Ciborgue



Estou agora na sala de espera do dentista, até segundos atrás eu contava o tempo pelo barulho que fazia o relógio quando se movimentavam os ponteiros, somente o parei de fazer quando um filme na televisão chamou minha atenção. O filme fala de um policial que após sofrer um acidente é reconstruído com partes robóticas, chamam-no de ciborgue.

Ciborgue é um ser que já foi humano um dia, mas que se tornou máquina, fria máquina de lata.

- Valéria – chamam meu nome da sala do médico, dirijo-me para o consultório pensando nos ciborgues.

Lembro-me de você. Lembro-me das noites em que você vai trabalhar e só volta quando todos dormem. Todos, palavra pesada demais para descrever a mim e ao filho, nosso filho, negligenciado afetivamente por sua parte. Também me vêm à mente as noites em que procuro seu corpo à cama e nada encontro. Que falta me faz o tempo em que você era feito de cálida carne e não de lata, gélida.

- Pode cuspir – falou o dentista, obedeço e volto aos meus pensamentos.

Gelado é também seu coração, talvez quando lhe reconstruíram esqueceram tal parte, talvez. Um coração somente atrapalharia seu objetivo, máquinas são feitas para trabalhar e não amar. Ao menos me prendo à idéia de que se esforça tanto para termos o melhor, para que nossa cria cresça bem e tenha um bom emprego. Devemos trocar agora seu pulso por fluido e seu cérebro por um drive?

Não quero que ele fique assim.

Máquina.

Saio do consultório, ainda rodeada por estes pensamentos, sequer me recordo do que me fora dito na consulta. Dou-me conta de que ainda passava o filme, sento-me e assisto. Desejando, silenciosamente, que o ciborgue reaja a algo com humanidade.

Para meu conforto, ao final do filme o policial derrama uma lágrima e quebra um pouco a imagem dura do ferro, mostra que lá no fundo, a parte humana, minúscula e fraca, ainda se manifesta. Quem sabe? Quem sabe você ainda está ai, embaixo das chapas, em baixo de sua armadura.

Sei que esta noite dormirei mais tranqüila, terei nos sonhos alguma esperança de mudança, certamente boas mudanças.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Gire


Sejamos como os girassóis, que sempre buscam o sol, não importa se já lhes tenham caído algumas pétalas, ou se já trazem o corpo comido por formigas e gafanhotos. Olham para o dia que nasce, a cada dia um novo dia, sem lastimas, sem reclamações, com dores, sem duvida, mas sem ouvi-las, vivem pouco, não podem desperdiçar tão pouco tempo com tão pouca “coisa”.

E quando por fim se vão, deixam gravadas no chão, marcas de suas vidas.