Atenção

Todos os textos do blog são de minha autoria (Eduardo Gonçalves Monteiro) assim como as imagens postadas a partir do dia 1 de maior de 2010. Caso pretenda utilizar algum texto do blog de os devidos créditos ao autor e ao blog.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Passos de criança



Vamos parar, por um minuto apenas. Um minuto para respirar.

E se a gente voltasse? Voltasse para quando tínhamos pernas menores, pernas de criança. Nossos passos não seriam mais tão largos. Seriam calmos.

Nossos risos seriam mais ingênuos, mais delicados. E não teriam mentiras só brincadeiras.

E por falta de maldade, não haveria ciúmes. Só o tempo, tempo que não nos importaria. Para que nos preocuparmos com algo que não nos pertence?

Então vamos andar com calma, com nossos passos de criança.

domingo, 4 de dezembro de 2011

O Ciborgue



Estou agora na sala de espera do dentista, até segundos atrás eu contava o tempo pelo barulho que fazia o relógio quando se movimentavam os ponteiros, somente o parei de fazer quando um filme na televisão chamou minha atenção. O filme fala de um policial que após sofrer um acidente é reconstruído com partes robóticas, chamam-no de ciborgue.

Ciborgue é um ser que já foi humano um dia, mas que se tornou máquina, fria máquina de lata.

- Valéria – chamam meu nome da sala do médico, dirijo-me para o consultório pensando nos ciborgues.

Lembro-me de você. Lembro-me das noites em que você vai trabalhar e só volta quando todos dormem. Todos, palavra pesada demais para descrever a mim e ao filho, nosso filho, negligenciado afetivamente por sua parte. Também me vêm à mente as noites em que procuro seu corpo à cama e nada encontro. Que falta me faz o tempo em que você era feito de cálida carne e não de lata, gélida.

- Pode cuspir – falou o dentista, obedeço e volto aos meus pensamentos.

Gelado é também seu coração, talvez quando lhe reconstruíram esqueceram tal parte, talvez. Um coração somente atrapalharia seu objetivo, máquinas são feitas para trabalhar e não amar. Ao menos me prendo à idéia de que se esforça tanto para termos o melhor, para que nossa cria cresça bem e tenha um bom emprego. Devemos trocar agora seu pulso por fluido e seu cérebro por um drive?

Não quero que ele fique assim.

Máquina.

Saio do consultório, ainda rodeada por estes pensamentos, sequer me recordo do que me fora dito na consulta. Dou-me conta de que ainda passava o filme, sento-me e assisto. Desejando, silenciosamente, que o ciborgue reaja a algo com humanidade.

Para meu conforto, ao final do filme o policial derrama uma lágrima e quebra um pouco a imagem dura do ferro, mostra que lá no fundo, a parte humana, minúscula e fraca, ainda se manifesta. Quem sabe? Quem sabe você ainda está ai, embaixo das chapas, em baixo de sua armadura.

Sei que esta noite dormirei mais tranqüila, terei nos sonhos alguma esperança de mudança, certamente boas mudanças.